quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Aromas e sons da infância!

    Quase todas as tardes - principalmente sob esse rigoroso inverno - uma sonolência surge com força suficiente para jogar a gente no sofá ou na cama. Um cochilo reparador se torna inevitável!  A idade e a irresponsabilidade aos 67 anos - recém completados - não requer, não pode e nem deve exigir de nós, aposentados,  muito mais do que já fizemos até aqui!

    Evocando esse reles, mas original argumento, relato o que me aconteceu hoje:

    O quarto estava aquecido!  Através dos vidros  o sol ainda projetava no chão os quadriculados da janela, perto da cama! Deixei meu corpo reclinar devagar e recostando a cabeça no travesseiro - esvaziando a mente - respirei profundo."Eu mereço isso, pensei"! Qual o quê!


O aroma da tangerina, lembranças da infância!


    Fechei os olhos. Lembranças que há cinquenta e quatro anos marcaram minha infância:  em imagens, sons e aromas - como alucinações -  povoaram minha mente! Gritos e gargalhadas. Correria e ecos abafados de pés descalços. Estalos de "tecos" produzidos por um garoto agachado tendo os bolsos pesados,  transbordando bolinhas de gude!



    Mal dera tempo de saborear aquela suculenta e cheirosa  tangerina, que a Marlene, a amiga da fileira ao lado deixara debaixo da minha carteira! 

    Terminou o recreio!

    Agora estamos todos em silêncio! 
  
    À minha frente  há  um pequeno pote de metal encravado na carteira. O fundo está escuro pelos restos de tinta seca!  

   A professora - dona Brasilia Indiani - caminha em nossa direção,  com uma garrafa escura nas mãos. Pára!  Aprumada, inflexível! Curva-se cuidadosamente!  Olha-me com gravidade!  Enquanto enche o pote com tinta azul escura, um crucifixo prateado  oscila lentamente diante dos meus olhos!  

   Uma mistura de suave perfume de mulher com o odor forte da tinta nanquim, contrasta com o nosso cheiro de  suor! 

    No cavalete à frente, uma paisagem. Uma narração?  Uma descrição?  Dissertação? 

    Terminamos a prova! 

    Todos os cadernos foram recolhidos. 

    Abro minha bolsa de couro e um cheiro especial e breve escapa!  Elas são sempre leves. Só levamos para casa: a cartilha, estojo de lápis e caderno de deveres de casa.  Todos os demais cadernos, ficam no armário da sala de aula.


Grupo Escolar do Quiririm.

     Toca o sinal. Fim das aulas por hoje.  Felicidade!

    Que pena!  Hoje não choveu. Não tem enxurrada na estrada pra gente brincar!

    E essa lágrima que insiste em brotar agora?  Formatura!

    Estamos todos no pequeno cinema do Quiririm!  A voz embargada na garganta nos impede de cantar a "Canção do Marinheiro " .  Havíamos ensaiado tanto!

   As lágrimas agora  vêm numa  canção de despedida, ainda mais triste: "Ah... vamos deixar... nosso grupo escolar"...


Aquele foi o último dia em que estivemos juntos!

     Deixamos nosso grupo escolar!  Nunca mais nos encontramos!

    Esses momentos estavam arquivados na minha memória até há alguns minutos. Até serem despertados por uma jovem,  que dias atrás, solicitou-me adicioná-la no Facebook. 

    "Oi, posso falar c o Sr? eu sou neta de uma amiga sua''. Sim, eu respondi!  Foi assim que hoje - através da Internet - reencontrei minhas amigas do tempo do grupo escolar:  Zeni e Marlene!

    Obrigado, Lohaine!  Você não sabe o quanto de felicidade nos proporcionou com sua iniciativa e atitude!

                

                         A Escola do meu tempo.

    "A amizade desenvolve a felicidade e reduz o sofrimento, duplicando a nossa alegria e dividindo a nossa dor". Joseph Addison.

    "A lembrança da infância  é o único sonho real que nos resta na fase madura da vida, os demais são meras utopias". IGdeOL.
    

7 comentários:

  1. Ola Vitorinho, como nós te chamávamos nos bons tempos da escola. Com lágrimas nos olhos lendo o seu texto, revivi cada momento dos tempos em que estudávamos no Grupo Escolar Deputado Cesar Costa em Quiririm. Os recreios separados meninos de um lado e meninas de outro, não impediram que fizéssemos grandes amigos. O tempo passou, cada um seguiu seu destino e por mais que a vida separe as pessoas um dia estaremos todos juntos na casa do PAI. Parabéns pelos 67 anos que acabou de completar e pela bela família que constituiu. Marlene Bittencourt dos Santos

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    1. Obrigado, Marlene pelo seu acalentador comentário. Acalentador de acalenta+dor, porque também foi difícil relembrar e escrever sobre um tempo tão marcante em nossas vidas. O aroma da tangerina, ainda hoje, me lembra de você. Abraços à você e toda a sua família.

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  2. Belo e emotivo texto! Obrigado pela publicação de um dos meus pensamentos. Abraço! IGdeOL - Ivo Gomes de Oliveira.

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  3. Olá, Ivo!
    Que bom saber que IGdeOL é você e é um grande poeta!
    Um forte abraço e boa semana!

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  4. Cuanto se disfruta con los recuerdos de la niñez.
    Gracias por tu visita a mi blog.
    Un saludo.

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  5. Nossa memória olfativa, que faz com que certos "cheiros" nos levem numa viagem de volta à infância/juventude - maravilhosas lembranças.
    Maravilhoso reencontrar com o passado, traze-lo de volta para o presente e desfrutar...

    abç amg

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Seu comentário é o que torna especial esta postagem. Enriquece extraordinariamente o conteúdo!
Lembrando Saint Éxupery:"Aqueles que passam por nós, não vão sós. Não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós".
Obrigado pela visita!
Abraços!

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